ATIVIDADE EMPIRICA

                  PRODUÇÃO DE TEXTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
               
               Escrito por: Lilian Braga Carmo 

“ Só não existe o que não pode  ser   imaginado.” Murilo Mende








Podemos dizer que aprender a ler e escrever numa sociedade que se diz moderna, se tornou um processo de iniciação na educação infantil.  Instigar o imaginário da criança e desenvolver suas hipóteses são partes fundamentais desse processo.
De acordo com Mary A.Kato:
a função da escola é introduzir a criança no mundo da escrita, tornando-a um cidadão funcionalmente letrado, isto é, um sujeito capaz de fazer uso da linguagem escrita para sua necessidade individual de crescer cognitivamente e para atender as varias demandas de uma sociedade que prestigia esse tipo de linguagem como um dos instrumentos de comunicação. [...]A chamada norma-padrão, ou língua falada culta, é consequência do letramento, motivo porque indiretamente, é função da escola desenvolver no aluno o domínio da linguagem falada institucionalmente aceita. [Kato , 1986, p.7. grifos meus].


            Frente a isso a educação infantil aqui será enfatizada na concepção de promover uma educação da criança por meio de atividades que possam ser consideradas de suas historias, de seu meio social e da sua própria cultura.
Para podemos prosseguir falando dessa questão “escrita na educação infantil”, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil considera o seguinte:
O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada sua importância para a formação do sujeito, para interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento.     (Brasil, 1998, 3v., p. 117)


É necessário oferecer um trabalho de qualidade e significativo da linguagem escrita na educação infantil, temos que compreender que esse aprendizado não deverá ser composto apenas pela repetição de letras ou coordenação motora , pois o mesmo fará com que a criança tenha uma idéia fragmentada das letras e suas formas. É importante que a criança veja sentido nas letras, é através de sua própria escrita que o aluno constrói suas  hipóteses, aprendendo assim  a reorganizar  as idéias que têm em sua mente.
Escrever é o começo dos começos. Depois é uma aventura. Uma mochila com alguns poucos pertences do ofício artesanal, uma bússola, vale dizer um titulo que resuma o problema, ou o tema, e a hipótese de trabalho. Uma lâmpada para iluminar os caminhos à medida que se apaga a luz do dia.( Mário Ozório Marques)


Segundo Dolz e Gagnon (2010) a escrita é considerada como uma forma de comunicação, de expressão e de conhecimento. Quando o aluno desenvolve um texto ele expressa a partir da escrita muitas particularidades sobre sua origem social, sua cultura , seus conhecimentos lingüísticos  e discursivos, sua aprendizagem e  a importância da escrita como representação de identidade. Na maioria das vezes esses textos apresentam problemas de ortografia e pontuação,  mas porem são textos que os leitores compreendem com facilidade.
Através de uma perspectiva sobre o “erro”, pode-se dizer que o ele tem uma importância fundamental no desenvolvimento das produções dos alunos, por apresentar indicadores que nortearão o planejamento do professor frente às dificuldades ou não dos alunos.
Segundo Santos (2004), o professor nas series iniciais, deverá intervir nas produções dos alunos, ajudando-os a solucionarem os desvios da norma padrão. O mesmo devera instigar questionamentos, visando a reflexão do aluno frente aos seus erros, os quais deveram ser modificados. Dessa forma o aluno compreendera que ao revisar o seu texto poderá melhorá-lo. A partir disso o aluno passa a ser analista do seu próprio discurso.
Já Seber (1997), realça que não é necessário que o professor corrija as escritas infantis, pois nelas não há nada de errado no sentido comum da palavra. Para esse autor a correção das escritas infantis é desnecessária, pois na grande maioria das vezes os alunos se expressão com desenhos, palavras picadas, é importante a conscientização de que a aprendizagem é uma construção sequenciada e o papel do docente instigando sempre a reflexão do aluno.
 Cabe ao professor criar situações de aprendizagem para que o mesmo possa acompanhar a atuação do aluno e seu desenvolvimento. Para tanto, um importante meio é a  observação do trabalho individual e coletivo, pois a criança tem essa necessidade de registrar , valorizar a caligrafia , ortografia, entre outros aspectos do seu cotidiano. Tanto Santos(2004) quanto Seber(1997) enfatizam o papel do professor de instigar sempre a reflexão do aluno, para que o próprio tome consciência de seus próprios erros.
Torna-se importante enfatizar que o saber-escrever em toda sua amplitude , se faz progressivamente presente em todos os níveis de ensino obrigatório e constitui o êxito escolar de todos os alunos, sem falar no importante papel que desenvolve na socialização da criança.   
 De acordo com Dolz e Gagnon (2010) a entrada na cultura da escrita é, geralmente muito precoce. Mesmo que o desenvolvimento da expressão oral tome um grande impulso na escola infantil, as primeiras fases da aquisição da fala não se constituem como objetivo de um ensino explícito. Na grande maioria das vezes as crianças justificam algumas opções gráficas escolhidas durante suas primeiras tentativas de escrita.
 As conclusões possíveis a fazer são que a partir da escrita da criança em suas  produções de textos,  temos em meios as palavras características da narrativa oral, por isso, não sentem a necessidade de pontuar os textos e utilizam elementos característicos da linguagem oral (como o conectivo “e”). Com o passar  do tempo e com o auxilio do professor, o qual buscara sempre valorizar a reflexão, as crianças passam a utilizar de recursos da língua portuguesa, entretanto isso só acontecera quando  a criança interagir com seu próprio texto escrito.
A partir dessa reflexão o desenvolvimento da produção de texto infantil pode ser visto como:
  • Fazer com que a criança conceba a linguagem como um trabalho, do qual é necessário a interação entre ela e seu texto e os sujeitos;
  • As atividades de produção de texto são atividades interativas, e são compostas da colaboração entre os colegas e o auxilio do professor, para que a criança elabore sua reflexão sobre a linguagem escrita.
  • A intervenção do professor possibilita técnicas de escritas. (sinais de pontuação, conectivos, parágrafos etc.);
  • Através da prática de produção de texto a criança experimenta a reflexão sobre a língua.
Dessa forma, este estudo aponta para uma reflexão sobre o encaminhamento do trabalho pedagógico direcionado à crianças da educação infantil, ao mesmo tempo que contribui para a construção de alguns caminhos que, acredito, possam ser trilhados por outros docentes que trabalham com alunos tanto da educação infantil quanto das seres iniciais temas como a produção de texto                                                                                                     



       "ATIVIDADE  EMPIRICA"

                                                                                                              Escrito por: Leandra Rezende  e  Lilian Braga

 

 “Ilustrar é despertar um questionamento, é instigar a curiosidade para desvendar os mistérios incrustados nas entrelinhas das palavras, na ambientação das formas e cores que acionam os sentidos...”   (Márcia Szeliga)


            A presente análise é embasada na produção de texto oral de crianças da pré-escola. Sabe-se que os desenhos das crianças não só nos contam suas preferências e opções pelas formas, as cores e as características dos seus traços, mas falam de suas experiências e preocupações. Sendo a fala e sua organização também carregada destes elementos.
Esta atividade empírica foi realizada com uma turma de crianças de cinco anos em uma escola de Educação Infantil no município de Belo Horizonte – Maio de 2011, durante aulas de português. Para está atividade utilizamos o livro Não vou dormir de Christiane Gribel Orlando.

1.DESENVOLVIMENTO

Durante 4 horas observamos uma turma de alunos do 2°período da educação infantil. Neste período procuramos realizar atividades de produção de texto oral utilizando como recurso livros de literatura infantil. As crianças deveriam criar sua própria história a partir das ilustrações apresentadas em cada livro.


2. A IDENTIFICAÇÃO

A turma é composta por 5 meninas e 8 meninos. A fim de direcionar nosso plano de aula procuramos estabelecer alguns critérios para nossa análise:
  • Fazer uma roda com todos os alunos;
  • Mostrar o livro “Não vou dormir” de Chistiane Gribel , deixando as crianças livres para construírem sua própria história a partir das imagens que viam.
  • Parar a história na penúltima página e em seguida dividir os alunos em dois grupos. Instigando-os a elaborarem um final para a história.

3. METODOLOGIA E MATERIAL UTILIZADOS

A metodologia utilizada foi constituída por uma atividade preparatória que introduziu os alunos a temática proposta. Os materiais utilizados nessa atividade empírica foram o livro infantil “Não vou dormir” de Chistiane Gribel, folhas de papeis em branco, e muitos lápis de cores diversas, borracha e lápis de escrever.

3.1 OBJETIVO :

Permitir que a criança diante da atividade apresentada possa organizar suas idéias e expressa-las tendo uma seqüência lógica dos fatos. Diante do contexto situacional exposto aos alunos eles deverão construir um texto oral expressivo no qual eles apresentem quem são os personagens, onde acontece o desenvolvimento da história, o papel de cada personagem dentro do contexto apresentado, em qual momento há o ápice da história , o que em um texto escrito seria o clímax. Ao construir um texto oral é importante que a criança elabore hipóteses e organize a linguagem a fim de lhe dar coerência.

3.2 OBJETIVO ESPECÍFICO
  • Fazer com que a criança desenhe não o que se vê, mas o que se conhece, o que se sente.
  • Valorizar as próprias criações considerando o caráter próprio dos desenhos, em cada etapa do desenvolvimento cognitivo
  • Trabalhar individualmente e em grupo, com o conhecimento frente a produção de texto não verbal.
  • Articular as linguagens oral e escrita.
  • Fazer uma produção de desenhos de acordo com o próprio desejo da criança, sem necessidade de seguir um padrão, comparar, avaliar ou julgar o trabalho do outro.
  • Respeitar a produção de todos.
  • Valorizar as singularidades de todos os desenhos e os variados estilos de expressão.

4. ATIVIDADE

No momento em que formamos a roda os alunos já estavam ansiosos para ver o livro e ouvir a história.  O nosso interesse não era fazer uma leitura liderada pelo professor, o intuito era integrar os alunos para que eles fossem capazes de construírem sua própria história.

Pesquisadora: Gente, presta atenção aqui na tia , fala pra tia o que vocês estão vendo.
Alunos: Uma boneca com um ursinho.... a figura de uma boneca.
Pesquisadora: Uma boneca?
Alunos: É ! Uma boneca com um ursinho.... e ela ta brava com o ursinho.
Pesquisadora: Ela está brava, vocês acham?
Alunos: Não. Ela esta triste! Ela ta dormindo! Brava!
Pesquisadora: então vamos ver!
Alunos: Ela ta com um ursinho e com uma boneca.
Pesquisadora: É?
Alunos: É!
Pesquisadora: vamos ver o que vai acontecer... está dando para todo mundo ver aqui?
Alunos: Dá!
Pesquisadora: Então vamos fazer assim então, tá!
Alunos: É um homem?
Pesquisadora: Olha é ela não é? O que ela esta levando?
Alunos: É...  ela tá chorando...
Pesquisadora: Ela está chorando?
Alunos: Tá aqui a água (aponta para a sombra da personagem do livro)
Pesquisadora: ... será que isso é água?
Alunos: É .... é azul! É olha lá ela tá nervosa.... ela esta triste... Não ela tá chorando... ta sim... não....
Pesquisadora: Olha vamos combinar uma coisa cada hora um fala...
Alunos: Porque apagou... ela tá indo pro quarto dela.... e tá triste.... é ...
Pesquisadora: Ela esta indo pro quarto dela então?
Alunos: É!
Pesquisadora: e está triste?
Alunos: É... eu falei que ela esta triste....
Pesquisadora: É?
Alunos: ela ta olhando a janela... ela esta escovando o dente....é ela esta escovando o dente.... e largou o ursinho no chão....
Pesquisadora: É largou o ursinho no chão ...
Alunos: E ele acordou...ala ta no chão...
Pesquisadora: E agora?
Alunos: E ela ta na cama... é ta na cama.... tem o guarda roupa...  e ela ta na cama ... (muitas falas nesse momento)
Pesquisadora: e ela esta indo pra aonde?
Alunos: ela ta no quarto.... e pra cama....
Pesquisadora: Pra cama?
Alunos: Não....É...e ela apagou a luz...
Pesquisadora: É a luz esta apagada ...  Será que esta de noite?
Alunos: Não... aqui tem uma luisinha....
Pesquisadora: é mesmo aqui tem uma luisinha né? E agora?
Alunos: Ela ta na cama...ela tá mal!
Pesquisadora: Ela esta mal?
Alunos: Não... ela ta muito brava...
Pesquisadora: Ela esta brava?
Alunos: É...
Pesquisadora: E aqui é onde heim?
Alunos: o quarto dela.... o quarto dele...
Pesquisadora: Pêra é .... é menina ou menino?
Alunos: Menino, ursinho.... menina...
Pesquisadora: aqui então é o que?
Alunos: o quarto dela....
Pesquisadora: o quarto dela?
Alunos: Não ... e do ursinho!
Pesquisadora: e o que ela esta fazendo no quarto dela?
Alunos: uai... ta dormindo...
Pesquisadora: mas aqui ela esta acordada?
Alunos:  não e porque, ela pegou o ursinho e ta brava, ne...
Pesquisadora: quarto dela?
Alunos: no quarto dela...
Pesquisadora: De novo o quarto dela....
Alunos: É ... outra vez o quarto dela...  e de novo....
Alunos: de novo.... de novo... de novo.....
Alunos: de novo.... aaaa ta tudo preto....
Pesquisadora: Agora não acabou a historinha, vamos dividir em grupo.... e continuar descobrindo a história.... e porque ficou tudo preto...

4.1 OS GRUPOS

Após o primeiro contato com o livro, a turma foi separada em dois grupos. Cada grupo deveria elaborar sua história e narrá-la oralmente aos demais alunos.  Após cada grupo apresentar seu texto o professor fez a leitura do texto literário escolhido “Não vou dormir”.  O intuito era observar que relações as crianças estabeleceram entre o texto oral que elas construíram frente as imagens do livro e a história que foi apresentada pela professora.

Grupo 1: Ilma, Letícia, Sofia, Ana Carolina, Kauan, Stefano e Katherly.

Alunos: - Ela quer a mãe dela...
Pesquisadora: o que ela esta fazendo aqui?
Alunos: Ela ta chamando a mãe dela... ela ta indo escovar os dentes...
Pesquisadora: ela esta indo escovar os dentes....
Alunos: mas ela esta triste... não ela esta indo pro quarto dela.... ai ela ta escovando os dentes...
Pesquisadora: mas porque ela esta indo pro quarto dela? E escovando os dentes?
Alunos: e porque ela quer a mãe dela e ta triste... ai ela jogou o urso no chão.... Ai ela foi pro quarto dela a muito tempo... mentira! é o quarto e do ursinho... não o quarto e dela...
Pesquisadora: e agora?
Alunos: no quarto dela, não no quarto do ursinho...
Pesquisadora: mais porque vocês acham que ela esta no quarto do ursinho ou no quarto dela?
Alunos:  ela ta colocando o ursinho na cama.... pra dormir... é pra dormir...
Pesquisadora: pra quem dormir? Pro ursinho dormir?
Alunos: É.... no quarto dela, não o quarto do ursinho...
Pesquisadora: mas porque as imagens estão ficando pequenas ?
Alunos: Porque tá fechando o olho...
Pesquisadora: mas quem ta fechando o olho?
Alunos: o ursinho.... no quarto dela...
Pesquisadora: ficou grande de novo... porque?
 Alunos: porque abriu o olho, e fica pequeno porque fecha... fechou... fechou... cabou...
Pesquisadora: e porque que fechou o olho? O que aconteceu?
Alunos:  ele ta dormindo... dormiu...
Pesquisadora: quem dormiu?
Alunos: o ursinho...
Pesquisadora: e a menina?
Alunos : também....

Grupo 2:  Gabriel Augusto, Arthur, Gabriel, Guilherme, Leonardo e Erick.

Alunos : Ela tava chorando... ela ta indo pro banheiro... pro quarto...
Pesquisadora: Pro quarto ou pro banheiro?
Alunos  : pro quarto ...
Alunos : não pro banheiro...
Alunos : Não pra cozinha....
Pesquisadora: Aqui é a cozinha então?
Alunos :  Não é banheiro!
 Alunos : Não é cozinha!
Pesquisadora – mas o que ela esta fazendo?
- Alunos :escovando dente!
Pesquisadora: e agente escova dente aonde?
Alunos : no banheiro....
Alunos : a é o banheiro mesmo... e ela largou o ursinho... e ela ta muito triste , ta mal...
Pesquisadora: e o que esta fazendo no quarto dela?
Alunos : ela vai dormir... ela ta na cama... ela e o ursinho
Pesquisadora: Será ? Então ela ta no quarto pra que?
Alunos : porque ela quer dormir...
Alunos : não pra ela brincar...
Pesquisadora: Mas ela esta com cara que quer dormir?
Alunos : É... ela ta no quarto.... para dormir.... pra brincar...
Alunos : ela ta debaixo da coberta
Pesquisadora: mas quando agente esta debaixo da coberta o que agente fica fazendo?
Alunos : dormindo...
Pesquisadora: então presta atenção na tia...
Alunos : Ela ta escondendo!
Pesquisadora: ela esta escondendo! Será que ela esta com medo de alguma coisa?
Alunos : Ela ta com medo  desse!
Pesquisadora: desse o que? Quadro?
Alunos : É vai pegar a mulher!
Pesquisadora: vai pegar a menina?
Alunos : É...
Pesquisadora: mas porque ele vai pegar ela?
- porque vai uai... ele vai roubar ela....
Alunos :não roubar não!
Alunos : roubar não pode....
Alunos : é o pai dela no quadro...
Pesquisadora:  Será que é o pai dela no quadro?
Alunos : deve ser né...
Alunos : ela ta com medo do pai dela....
Pesquisadora: e porque que as imagens estão diminuindo, porque aqui esta grande e aqui esta pequeno? Porque será?
Alunos :uai, não sei...
Alunos : porque ta apagando a luz
Pesquisadora:  Esta apagando a luz? Olha o tamanho que esta aqui?
Alunos : então pagou muito ai... a luz e ficou pequenininho...
Alunos : e ela tava correndo e apagando a luz e voltando pra cama dela...
Pesquisadora: e ficou grande de novo porque?
Alunos : porque acendeu a luz....
Pesquisadora: acendeu a luz?
Alunos : e o pai dela, apagou de novo... o pai dela acordou la do quadro...
Alunos : é verdade... la do quadro.... aiii...
Alunos :Ai apagou tudo e ficou só pequenininho.... e depois apagou tudo...
Pesquisadora: Mas o que significa, porque apagou tudo o que aconteceu então? Cadê o quarto?
Alunos : uai o quarto ta escuro...
Pesquisadora: o quarto ta ai no preto?
Alunos :  mas apagou a luz...
Alunos : a menina apagou tudo....
Pesquisadora: ta bom, agora me conta a historinha então.,. o que aconteceu?
Alunos : ela apagou tudo...
Alunos : a menininha tava triste...
Pesquisadora: ta e ai... ela foi pra onde? Fazer o que?
Alunos : ela foi chorando... e depois subiu a escada...
Pesquisadora: Ham ?
Alunos :e depois foi escovar o dente....
Alunos : pra dormir!!!
Alunos : e depois acordou...
Alunos : acordou... tomou café...
Pesquisadora: e aqui a ultima pagina que agente viu? Ta escura?
Alunos : Tá! Mas não acabou...
Pesquisadora: a mais a ultima pagina a tia vai mostrar depois....
Alunos : mostra tia....
Pesquisadora: a ultima pagina vocês vão desenhar o final da história... aaaa....
Pesquisadora: Mas vamos ver a historinha então... vocês falaram que ela estava triste, depois ela estava com medo do pai dela.... não tava?
Alunos :  é ... e ela escondeu debaixo da coberta...
Pesquisadora:  e depois ficou tudo escuro...
Alunos : É....
Pesquisadora:  e  o que aconteceu no quarto?
Alunos : e ela foi rapidão....
Pesquisadora: rapidão como? Como assim rapidão?
Alunos : assim o.... apagando todas as luzes....
Pesquisadora: mas porque apagaram todas as luzes?
Alunos : para dormir... não porque tava de noite...
Pesquisadora: vamos ver se estava de dia ou de noite...
Alunos : de noite... uai.... de noite ela ficou...
Pesquisadora: vocês tão vendo estrela aqui?
Alunos : não ... estrela fica no telhado...
Alunos : e ta de dia....
Pesquisadora: e de dia ? e porque esta escuro?
Alunos : é de dia.... porque ela ta de noite... ai dormiu... e ficou de dia... e ela apagou as luzes.


5. A PRODUÇÃO DE TEXTO NOS DESENHOS

                                “Desenhar concretiza material e visivelmente
   a experiência de existir” (Edith Derdyk)

O desenho é para a criança um instrumento eficaz, que pode ser utilizado inclusive para dizer de si mesmo. Desenhar é dizer antes de escrever. A criança que desenha não tem compreensão do processo que desempenha porem expressa sua opinião, e trás nessas imagens marcas do seu cotidiano e a produção de texto não verbal.
Essa atividade empírica busca abrir espaço inicialmente, para que as crianças façam o uso de uma linguagem que lhes dá prazer, que é o desenhar e todas as suas variantes. Depois buscamos atingir um público adulto que por ventura “esqueceram”, talvez através do processo de escolarização e por várias ideologias consumistas de bens industrializados , o prazer e a coragem que o ato de desenhar nos proporciona.
Nesse momento contemplaremos algumas produções de texto desenvolvidas no decorrer dessa atividade empírica: 

Aluno: Erick (5 anos)


 O Erick nos conta a história em que um dinossauro bateu na casa da personagem do livro “não vou dormir”. “O dinossauro caiu no terreiro e lá havia outro dinossauro  que bateu na boca dele .. ai a menina ouviu um barulho ... o  dinossauro bateu no telhado da casa... e ai tinha uma coisa balançando que caiu na cabeça do dinossauro.. a folha preta caiu nele e ai a luz apago”.  Não há dinossauros na história escrita por Chistiane Gribel, mas o Erick se apropria da imaginação,  constrói um novo enredo, acrescenta um novo personagem: o dinossauro. Na construção oral  ou escrita a criança vai se apropriar de elementos irreais,imaginários  para dar vida ao que fala ao que escreve.   Não existe aqui o certo ou errado do ponto de vista avaliativo,  o importante é que a criança  se aproprie do que vê, articule, de sentido a partir do seu ponto de vista. O desenho  e a produção de texto do Erick chamou nossa  atenção porque ele só utiliza a personagem principal do livro, a menina, no mais  ele muda toda a história, não se prendendo a nenhuma imagem a não ser a da personagem e o local da casa. O que Erick faz é recontextualizar a história a “A menina que não queria dormir”, sendo o texto e o contexto diretamente relacionados. Ele se apropria enquanto sujeito que constrói a história a partir do que  vê e do que imagina.  O dinossauro, o medo, o conflito, a noite são elementos que ele trás  do seu  contexto social para   criar uma nova história a partir das imagens que ele observa. O texto falado por Erick não estranho ou desestruturado, ao contrario ele tem uma estruturação própria ditada pelas circunstancias sociocognitivas de sua produção. 

                                           Sófia (5 anos)


 Sófia nos conta que depois da página preta a personagem do livro queria a mãe dela, e a pagina ficou escura porque ela fechou o olho, pois ela iria dormir. Sofia foi a criança que mais se aproximou do final da história. A mediada que o sono ia aumentado e a menina ia fechando os olhos a imagem disposta em cada pagina também era reduzida. A imagem estava condicionada ao campo visual que uma vez reduzido também reduzia as imagens.

 Ilma (5 anos)



Segundo a Ilma a personagem do livro estava sentada no sofá com seu ursinho, em seguida a personagem sobe as escadas com o urso e vai escovar os dentes e posteriormente vai para seu quarto onde fica deitada na cama. Em seguida ela coloca o ursinho para dormir. E após a página preta o ursinho dormiu. No desenho acima Ilma desenhou a personagem, os objetos que aparecem no decorrer da história como a cama, o pijama, o ursinho. Ela ainda acrescenta ao desenho e sua história oral que a menina dormir, depois amanheceu apareceu ás nuvens e a personagem acordou, e como já era dia o sol apareceu e a lua foi embora.

Fonte: www.nonada.com.br

            Segundo Oliveira (2008) a alfabetização visual proporcionaria à criança não apenas uma leitura melhor, mas também valorizaria a importância e a beleza das letras, dos espaços em branco, das cores, da diagramação das paginas e da relação entre texto e imagem. Realçar o que existe de magia e de descoberta em cada livro é a melhor forma de incorporá-lo ao cotidiano das crianças.

       “A criança não é considerada artista, porque ela é vista pelos adultos 
como um ser que está a aprender e não a ensinar.” (Paulo de Tarso)

O expressar na folha em branco que essa atividade empírica oferece através das imagens do livro “Não vou dormir” de Christiane Gribel Orlando, proporciona às crianças, diferentes técnicas, para que as mesmas possam conhecer e reinventar possibilidades. Pois ao desenhar a criança se dedica se ao que faz, modifica-se, interage com o desenho, dialoga com o mesmo, dá-lhe vida e movimento acrescendo lhe uma unidade sociocomunicativa. Partindo desse pressuposto é condizente dizermos que a produção de texto se dá a partir da leitura e codificação de imagens. A presença das imagens e da produção de desenhos na educação infantil demonstram a importância do papel da visualidade na construção do conhecimento.
Cabe a nos futuros docentes considerarmos a criança como um artista em processo de desenvolvimento sendo que a mesma nos oferece inúmeras possibilidades de aprendizado em especial a riqueza de suas produções de texto não verbais.


6. CONCLUSÃO

 É no processo de aprendizagem da escrita que os sujeitos elaboram teorias sobre a configuração dos textos escritos e seu funcionamento, mas antes de iniciar a escrita a criança já é capaz de elaborar e expressar oralmente um texto. Retomando o conceito de texto proposto por Maria da Graça Val (2006) um texto ou discurso vem a ser uma ocorrência lingüística falada ou escrita dotada de unidade sociocomunicativa semântica e formal.
Nosso intuito ao desenvolvermos esta atividade era observar e analisar as apropriações que a criança faz durante a produção de um texto oral. Mesmo partindo da elaboração de um texto interpretativo guiado por uma sequência de imagens cada criança desenvolveu seu discurso de forma independente e muito peculiar.
Quando a criança domina modalidade oral da língua, ela também desenvolve a capacidade de interpretar e produzir adequadamente textos falados no seu ambiente social. Analisamos alguns elementos textuais presentes na construção oral dos discursos apresentados por cada grupo.
  •          Nexo: usado também no discurso oral o nexo vem a ser a ponte de ligação entre as frases. Ele é indispensável na organização de um texto porque é através dele que a coerência se estabelece.  No trecho a seguir elaborado pelo grupo 1, é possível observar como se estabelecesse o nexo entre a ação e qual o objetivo de tal: “colocar o ursinho na cama.. pra dormir.. é pra dormir”, ir para cama para estas crianças está associado ao ato de dormir. Ir – cama – dormir, também representa a progressão das ações, isso é importante para que o leitor ou ouvinte compreenda o desenvolvimento do discurso.
Alunos: ela ta colocando o ursinho na cama.... Pra dormir... É pra dormir...
Pesquisadora: mas porque as imagens estão ficando pequenas?
Alunos: Porque tá fechando o olho...
Pesquisadora: mas quem ta fechando o olho?

 No grupo 2 e possível destacar como as crianças constroem sua fala articuladas a continuidade das ações: apagar as luzes- dormir- noite.

Pesquisadora: mas porque apagaram todas as luzes?
                Alunos- para dormir... Não porque tava de noite...

  •       Dêiticos - A relação referencial entre uma expressão lingüística e um elemento da enunciação são capazes de definir o espaço, o tempo, as relações sociais.  Os elementos identificadores da enunciação dentro de um discurso são conhecidos como dêiticos. As crianças do grupo 2 levadas pela experiência prática sabem que o espaço para se escovar os dentes é no banheiro, o “mesmo” confirma que o que foi dito é condizente.
                                                  Pesquisadora: e agente escova dente aonde?                                                                                                       Aluno: no banheiro....                                                            Aluno: a é o banheiro mesmo... E ela largou o ursinho... E ela ta muito triste...Ta mal...
Há também dêiticos sociais que assinalam a relação hierárquica entre os participantes e os papeis por eles assumidos. Quando as crianças retomam na história que a personagem tem um pai sem mesmo ele está incluso na história elas buscam assimilar a posição de um pai protetor, presente que leva a filha para dormir

Pesquisadora: acendeu a luz?
Alunos - e o pai dela apagou de novo... o pai dela acordou lá do quadro...
Alunos - é verdade... la do quadro.... aiii...

Esta breve atividade empírica vem evidenciar um novo olhar sobre a produção de texto por crianças que ainda estão dando seus primeiros passos no processo de aprendizagem da escrita. Todas as expressões de linguagens são ricas, o que vale aqui não é analisar se elas atendem ou não a exigências da linguagem culta, mas saber como as crianças elaboram suas idéias e as expressam a partir de um ponto de referencia, que neste caso foi um livro de literatura infantil. As crianças sabem a diferença entre os registros escritos e os falados, elas compreendem os diferentes graus de formalidade implicados em cada um. É importante que as crianças tenham contato com diferentes gêneros textuais para que possam pensar na articulação de cada gênero ao construírem textos, mesmo que antes de serem alfabetizadas.
Acreditamos que este trabalho pode contribuir na discussão das praticas de ensino aplicadas à educação infantil, na medida em que possibilite ao professor detectar as dificuldades e os processos utilizados pelos alunos para construírem um discurso. As operações cognitivo-lingüística desencadeadas na produção de um texto oral ou escrito devem caminhar a favor da linearidade, o problema é quem nem sempre o enunciador na sua expressão oral ou escrita compatibiliza esta estrutura linear de informações lingüísticas com a estrutura não-linear da representação mental. Neste momento o professor pode intervir e auxiliar o aluno organizar sua fala ou sua escrita. É importante que cada criança expresse sua visão de mundo seja ela através da oralidade ou da escrita, pois não existe certo ou errado. O erro não é um obstáculo, mas uma forma de melhorar a aprendizagem, além disso, desenvolve a cidadania, porque dá ao aluno a oportunidade de discutir situações de todos os segmentos sociais, apresentar sugestões, contestar e aceitar conscientemente seu processo de aprendizagem.


Bibliografia

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.   Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.

SANTOS, Adriana Cavalcanti dos. Metodologia do ensino da língua portuguesa. Produção de texto. Unidade 3. Maceió: Ufal, 2004.

SEBER, MG A escrita infantil: O caminho da construção. São Paulo: Scipione, 1997.

DOLZ, Joaquim; Gagnon, Roxame; DECÂNDIO, Fabrício. Produção escrita e dificuldades de aprendizagem. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010.

RIOLFI, Claudia et al. Ensino de língua Portuguesa. SP: Tompson Learning, 2008
(Coleção Idéias em Ação)


COSTA VAL, M.G Redação e textualidade. São Paulo, Editora Martins Fontes, 2006

COSTA VAL, M.G; BARROS PINHEIRO L.F. Receitas e regras de jogo: a construção de textos injutivos por crianças em fase de alfabetização. Linguagem e educação: reflexões sobre praticas escolares de produção de texto. Organizado por:  COSTA VAL, M.G ; GLADYS ROCHA - Belo Horizonte ,MG : Autentica Editora 2005 .

KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Ática.

OLIVEIRA, Rui. Pelos jardins Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008

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